Deus quer, o homem sonha, a obra nasce…
Foi mesmo assim que, de harmonia com a reinterpretação lapidar de Fernando Pessoa, nasceu também a Escola Comercial e Industrial de Santo Tirso…
Há que tempos – desde 1930, pelo menos! – se aspirava à sua criação… A pequenina semente foi lançada ao seio da população local. E foi evoluindo numa gestação continuada, que o meio vinha em boa ajuda. Quem não sentia o problema? Uma curva demográfica de uma população jovem em aumento progressivo – 100% de avanço, no curso da primeira metade do século presente –, de um lado. Do outro, uma agricultura que a arredava e um ensino secundário – o tão antigo Liceu Municipal – que, de facto, não seduzia. Ficava aberto e escancarado o caminho à implantação da Escola Industrial. De resto, a laboração fabril, apesar de momentos de oscilação, foi substancialmente progredindo; e as empresas – certo, com lentidão –, abriram-se a algumas das reformas sociais e humanas que a lavoura não dava nem sequer prometia…
Se havia meio onde a semente germinar e dar fruto pudesse, era na nossa cidade e seu concelho. E porque se adivinhava o interesse dos industriais, daí o apelo à sua colaboração no estabelecimento de cursos a ministrar. Assim o pressentiram as instâncias superiores da governação.
Mors-amor
O nascimento da Escola foi a morte do Liceu Municipal. O registo do natal da primeira foi o assento de óbito da segunda instituição. De comum, apenas as velhas estruturas arquitectónicas que o legendário Conde de S.Bento, ao último fôlego do século passado, ergueria para assistência hospitalar.
Alegraram os passos iniciais da Escola um punhado buliçoso de alunos. Uns 73 no Ciclo Preparatório, que se abriu em 1954. Mas a árvore prometia crescimento; e, um ano depois, já com o Curso Geral do Comércio a funcionar, a população estudantil, logo vai ao dobro.
Odres velhos para vinho novo…
Se provisórias já tinha as suas instalações o velho Liceu Municipal, menos ajustadas o seriam para o funcionamento da nova instituição. Veja-se a complexidade e especificidade dos cursos, numa Escola Comercial e Industrial! E, em Abril de 1957, em terrenos da Quinta de Devesa, onde multisseculares esvoaçariam sonâmbulas silhuetas de mouras encantadas ou de bruxas aladas sobre cabo de vassoura – enfim, um universo fantasmagórico, que se reflectirá em sombra ou projecção na tela pictórica de um Marc Chagall -, se iniciou a construção de um estabelecimento próprio, a trigésima quinta Escola Comercial e Industrial do primeiro Plano de Fomento. Concluir-se-à em 1 de Outubro de 1959, já com uma população escolar a subir à ordem dos 527 alunos.
O coração do mundo
Ainda de fresco estreada – apenas a quatro anos da sua inauguração! –, a coincidir com o primeiro centenário da elevação de Santo Tirso a vila, um facto importante projectará a nossa Escola à menção incondicional nos jornais e nas revistas científicas de todo o mundo. Será palco – de 10 a 18 de Julho de 1963 – da realização do Congresso Internacional de Etnografia e Folclore.
Bastariam os números e, mais que eles, a qualidade dos trabalhos, para a evidência recortada da efeméride. Devido à grande fiada de participantes, as teses foram distribuídas por três secções, a que presidiram o Prof. Doutor Luís de Pina, da Universidade do Porto; o Prof. Doutor Santos Júnior, da mesma Universidade; o nosso distinto conterrâneo Doutor António Cruz, da Faculdade de Letras do Porto e, à altura, Director da Biblioteca Pública Municipal da mesma cidade.
Paralelamente, funcionaram três colóquios, subordinados ao tema Etnografia Comparada – a que presidiu o Prof. Doutor Silva Rego, do Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina -, ao Conto Popular – que foi dirigido pelo Prof. Doutor Stith Thompson que, oficialmente, representava, no Congresso, a Universidade de Indiana (USA) – e à Etnologia Marítima, sob a condução superior da Professora Virgínia Rau, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Vice-Presidente do Comité International d´Histoire Maritime.
Cento e quarenta e seis comunicações de especialistas, que vinham em nome de 15 Sociedades e Instituições, que representavam bastantes Universidades, num conjunto alargado de dezoito países… Seis densos volumes, com as participações activas no Congresso: repositório e nascença de úbere manancial de informações, comentários e estudos que, durante alguns dias, fizeram da nossa Escola o centro donde os especialistas de maior nomeada auscultaram o ritmo e as pulsações da cultura e da arte popular do mundo inteiro.
Não nos banhamos duas vezes no mesmo rio…
Tudo o que humano é nasce sob o signo ou fado da contingência. Nunca nos banhamos na mesma água, repito. Por razões oriundas, sobretudo, da legislação oficial, a Escola repensa a sua marcha e reorganiza a sua ca A partir de 1975/1976, um itinerário de mãos dadas com o Ensino liceal, pela implementação do 7º Ano de escolaridade do ensino secundário unificado;minhada:
Em 1978, a reestruturação dos cursos complementares, individualizados pelas estrelas polares do acesso ao ensino superior, em alternativa com o do mercado de trabalho;
A partir de 1979, a concretização de uma nomenclatura matemática que condissesse, por um lado, com as citadas linhas de reestruturação, e, por outro, com a sua individualidade, a nível local. Assim se baptiza de Escola Secundária n.º 1 o nosso estabelecimento, por oposição ao ex-liceu, que ficaria com o nome de Escola Secundária n.º2.
Em 1986 – não seria preciso esperar pela terceira, que, à segunda, foi já de vez! A Escola, convidada a apresentar um patrono, reflectiu sobre várias hipóteses possíveis. Chegar-se-ia à conclusão de que lhe não era descabida a designação de Escola Secundária Tomaz Pelayo. Pelo contrário, assentava-lhe como luva, que às qualidades artisticas do mestre somar-se-ia a homenagem a um dos seus mais prestigiosos elementos do corpo docente…
O beneplácito das entidades oficiais correu de feição e fez lei: Portaria n.º 261/87, de 2 de Abril. Assim se decidiu: Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro da Educação e Cultura, que as escolas a seguir indicadas passem a designar-se, respectivamente (…) Escola Secundária n.º 1, de Santo Tirso – Escola Secundária de Tomaz Pelayo, de Santo Tirso.
Poldras que recordam o fluxo de uma instituição. Marcos miliários de um estabelecimento de ensino, na sua caminhada ao longo da história. Que fiquem para memória…
Texto de Francisco Carvalho Correia (professor do 8º Grupo A)
Desenhos de Avelino Leite (professor do 5º Grupo)
Icons de selecção de Rui Coutinho (professor do 5º Grupo)
Imagens das obras de Tomaz Pelayo retiradas da publicação da Câmara Municipal de Sto Tirso/ Museu Municipal Abade Pedrosa